sábado, 13 de agosto de 2011

Então fica combinado assim...

Apanhai-me as raposas, as raposinhas, que devastam os vinhedos, porque as nossas vinhas estão em flor. Cantares 2.15

"Então fica combinado assim: eu não condeno o seu pecado; e você não repara no meu!"

Vocês já imaginaram semelhante diálogo ocorrendo dentro da igreja? Felizmente, penso que a ousadia dos crentes não chegou a tanto. Porém, na prática, lamento dizer, em muitos casos, é isto o que está acontecendo! Sim, um acordo silencioso, uma cúmplice tolerância, uma silente aceitação do pecado na vida dos cristãos.

Afinal, quem haveria de chamar a atenção aos pequenos desvios de conduta de uma crente admirável, um diácono dedicado, um presbítero honrado ou um pastor muito amado? Quem seria capaz de sincera e humildemente lembrá-los que são imperfeitos como os demais, apontando-lhes suas falhas?

Vejam bem, a primeira preocupação aqui não é de falar sobre os grandes desvios, aqueles que exigem investigação e severa disciplina eclesiástica, mas sim falar daqueles maus comportamentos, que como raposas, como raposinhas, vão sorrateiramente minando, não apenas os vinhedos apaixonados do livro de  Cantares, como também as amizades e as famílias, chegando ao ponto de contaminar igrejas inteiras!

São brincadeiras inocentes que aqui e ali, fazem suas vítimas; pequenos boatos tomados como verdade sem que haja defesa alguma; são "mentirinhas convenientes", além de palavrinhas grosseiras que jamais se contradizem, nem dão mostras de arrependimento, e lágrimas que rolam sem que haja consolo. São divertidas piadas ou esnobe erudição, tomando o lugar da mensagem bíblica transformadora; é a ganância materialista, fazendo-se passar por merecido galardão; é o ativismo social disfarçando o desamor; são palavras de otimismo e auto-promoção ao invés de obediência e auto-negação,  e até mesmo alegres louvores, impropriamente, substituindo o arrependimento e a contrição!

E aí, quando olhamos ao redor, já não entendemos o que foi que mudou; já não sabemos como nos distanciamos tanto do ideal cristão. Alguém apressadamente diria, vou mudar de igreja, aqui já não existe amor! E há os que assim procedem, crentes de que os erros são alheios, entretanto, ao saírem, levam também consigo suas próprias raposinhas.

Mas, alguém pode citar as palavras de Jesus em Lucas 6:37 e  41:
Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados;
Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?


Todavia, Jesus não estava condenando toda a forma de julgamento, e sim impondo o princípio de não fazer aos outros o que não queremos que nos façam e antes de acusar a outrem, verificar as próprias atitudes, dando sempre condições de perdão ao arrependido!
  
Deste modo, não estou propondo uma “caça às bruxas”, uma “inquisição sem fogueiras”, ou a re-impressão da “letra escarlate”, de modo algum, nenhum julgamento irresponsável ou desumano!

Estas linhas tampouco visam uma cruzada mundial contra o pecado (o que pode ser também bastante oportuno), mas, sim a limpeza da nossa própria vida, casa e igreja, numa sincera busca de olhar para si mesmo, corrigir-se, e só então chamar pelo outro alertando-o. 

Sei bem os riscos que corre aquele que acorda e vê o perigo, tendo que interromper os sonhos felizes dos incautos, que detestarão ter de despertar. Mas se não fizermos nada para eliminar as malditas raposinhas, isto é, os pequenos vícios de comportamento do povo de Deus, tenhamos certeza de que, cedo ou tarde, Deus o fará! E então o sofrimento do castigo divino sobre a igreja rebelde será muito maior do que aquele que pensamos evitar quando nos calamos!

Peço ao Senhor que esta mensagem, seja como uma trombeta ressoante, e que chegue a tempo aos ouvidos dormentes de muitos irmãos!

Com sinceros e ternos afetos de misericórdia em Cristo,

Pr. Sandro Márcio

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Amarás ao teu próximo, amarás até ao teu inimigo!

Esta é a palavra de Jesus aos seus discípulos. Todavia, nem sempre é isto o que temos feito!
Temos muita dificuldade de amar aqueles que se nos opõem de algum modo. É claro que eu não estou defendendo que abramos mão de nossas atuais convicções; pois só temos que fazê-lo quando formos convencidos biblicamente da opinião contrária. O que falo aqui é acerca da frieza e grosseria que tão comumente se estabelece nos relacionamentos inter-pessoais, mesmo dentro das igrejas.
Do nosso lado, como parte da membresia da igreja, temos o dever de obedecer a liderança eclesiástica, enquanto e naquilo que esses irmãos estiverem de acordo com a Bíblia Sagrada, nossa única regra de fé e prática, reconhecendo que cabe aos líderes a obrigação de pastorear, ordenar, corrigir e disciplinar os membros; mas mesmo quando tivermos dúvidas quanto à fidelidade destes irmãos, precisamos nos dirigir a eles com sinceridade, humildade e amor, pois de outro modo o conflito vai se estabelecer antes mesmo que possam ter oportunidade de ouvir nossos argumentos ou nós de ouvirmos os deles. Por outro lado, a liderança, por se tratar de homens mais maduros, experimentados e conscientes das próprias limitações, deve ter paciência e ouvidos atentos aos lamentos e críticas do rebanho. Carecemos todos de sabedoria, humildade e amor, e na falta deles a troca de ofensas e o afastamento da igreja se tornam opções tentadoras.
Por outro lado, temos também dificuldades de relacionamento com as demais denominações. É certo que se pensássemos uniformemente quanto à doutrina, estaríamos na mesma denominação, ou se fôssemos viver e cultuar juntos com tantas discordâncias acabaríamos nos perdendo em discussões sem fim, daí o benefício das tantas igrejas evangélicas espalhadas pelo Brasil afora, de modo a que o cristão possa escolher aquela que mais o convencer do agrado de Deus. Todavia, não nos enganemos: a Igreja de Jesus Cristo é a união de todos os verdadeiros adoradores, salvos pelo sangue do cordeiro, e não pode ser circunscrita a uma única denominação,  nem tampouco se resume à comunidade que expresse melhor entendimento doutrinário. Deus tem os seus escolhidos em toda a parte, homens, mulheres e crianças que confessam a Jesus Cristo como seu Único e Suficiente Salvador!
É preciso que calvinistas saibam amar e respeitar os arminianos e que arminianos tenham igual consideração para com seus irmãos calvinistas, que pentecostais e tradicionais saibam reconhecer a ação de Deus na igreja de um e do outro. E ainda que saibamos e devamos lutar contra os erros de um determinado grupo evangélico que sorrateiramente tentam invadir nossas igrejas, tenhamos cuidado de não supor que nada lá seja bom e que todos estejam conscientes ou em concordância com as heresias. Não sejamos apressados em duvidar da fé verdadeira que Deus colocou no coração dos nossos irmãos. Auxiliemos a liderança de nossa igreja para que a necessária disciplina eclesiástica seja mais eficaz e menos traumática, orando por aquele que ainda não se arrependeu e recebendo com amor o irmão arrependido. Deixemos para os anjos de Deus no Juízo Final, a tarefa de separar o joio do trigo! Não somos capazes de julgar quem seja ou não um eleito do Senhor!
Deste modo, convém que saibamos tratar de nossas diferenças, mas sem causar escândalos, sendo firmes contra os desvios e ainda assim ternos uns com os outros, deixando sempre a possibilidade do outro mudar ou não de opinião, na certeza de que mesmo se ele estiver errado está diante de um amigo de verdade, e caso percebamos que nós é que estávamos equivocados, não sejamos impedidos de reconhecer nosso erro pela enorme vergonha das grosserias que dissemos.  Não falo como alguém isento desse erro, e sim como aquele que sabe as conseqüências de por vezes tê-lo cometido!
Como disse, é importante que não nos deixemos levar por qualquer palavra ou doutrina! Entretanto, se não soubermos discordar com amor, não saberemos amar de modo algum!