segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Não julgueis, para que não sejais julgados!

Este é, talvez, o versículo mais citado pelas pessoas que desejam permanecer em seu erro!

Ele é muito usado como resposta em repulsa à qualquer tentativa de aconselhamento, acerca das mais variadas situações: adultérios, brigas, violência, heresias e toda a sorte de maus comportamentos.

Mas, seria mesmo essa a intenção de nosso Senhor ao dizer estas palavras? Estaria o Mestre nos ordenando que deixemos cada um seguir seu próprio caminho, sem qualquer opinião ou interferência?

Creio que a melhor maneira de entender algo que foi dito é primeiro olhar atentamente para o texto e contexto em que foi proferido; como muitos já disseram no passado: “Texto fora de Contexto, não passa de Pretexto!”.

Então, o mínimo que se espera para que bem compreendamos as palavras de Jesus é que leiamos todo o texto que envolve o assunto, para isto, vamos ao que nos diz o Senhor em Mateus 7. 1-5.

Mateus 7.
1  Não julgueis, para que não sejais julgados.
2  Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.
3  Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?
4  Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu?
5  Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.

Estas palavras de Jesus, fazem parte do seu famoso Sermão da Montanha. Aqui vemos Jesus ensinando acerca do que devemos fazer quando nosso irmão estiver necessitando de alguma correção, o que Ele chama, “ter um argueiro (cisco) no olho”.

É correta a preocupação de ajudar nosso irmão com problemas, buscando corrigi-lo, pois deixá-lo do modo como está é prova de desamor; todavia, se não nos cuidarmos, ao invés de ajudá-lo estaremos, hipocritamente, prejudicando-o ainda mais!

Lendo os cinco versículos vemos que nosso Senhor não deseja que deixemos nosso irmão em seu erro, que fatalmente lhe trará complicações, por isso nos ensina os cuidados que devemos tomar antes de tomarmos alguma atitude:

1º Advertência
QUEM NÃO ACEITA SER JULGADO NÃO TEM O DIREITO DE JULGAR
(Não julgueis, para que não sejais julgados)

Esta advertência deve ser sempre a primeira a ser considerada, pois toda a vez que falamos de alguém estamos ao mesmo tempo dirigindo as atenções para nossa própria conduta. É impossível corrigir o outro sem nos expormos à opinião alheia; e isto é bom, pois muitas vezes acabamos por sermos confrontados com a realidade de que o erro pode estar mais em nós do que no outro. Deste modo, se não estamos dispostos a, paciente e atentamente, ouvir o que pensam de nós estaremos desqualificados para corrigir os outros!

2ª Advertência
É PRECISO TER CUIDADO NO CRITÉRIO EMPREGADO NO JULGAMENTO
(com o critério com que julgardes, sereis julgados)

Não podemos esquecer que muitos juízos pessoais e populares são condicionados à conjecturas da moda, do momento e da maioria; coisas que facilmente se alteram.  Convém que tenhamos um critério, que seja firme, justo e verdadeiro, daí a necessidade de atentarmos para a Bíblia Sagrada, que é a Palavra de Deus.

Pela Escritura Sagrada temos segurança em não apenas dirigir a nossa vida, como também orientar aqueles que amamos; daí, sempre nos questionarmos se nossos pensamentos e juízos estão de fato firmados na verdade ou apenas expressam meras opiniões ou convenções sociais.

3ª Advertência
É PRECISO EXAMINAR QUAL A NOSSA VERDADEIRA INTENÇÃO
(com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também)

No texto do Novo Testamento em sua língua original a palavra utilizada para medida não apenas descreve uma forma de julgamento, como também revela a intenção, que pode ser salvar ou condenar, preservar ou fazer  perecer. É a versão grega de uma expressão do Antigo Testamento: “Passar o cordel”. Trata-se de uma atitude comum do comandante vitorioso, diante dos seus prisioneiros de guerra. Ele passava uma corda entre eles, separando os que viveriam daqueles que haveriam de ser mortos.

Confira:
2 Samuel 8:2  Também derrotou os moabitas; fê-los deitar em terra e os mediu: duas vezes um cordel, para os matar; uma vez um cordel, para os deixar com vida. Assim, ficaram os moabitas por servos de Davi e lhe pagavam tributo.

2 Reis 21:13  Estenderei sobre Jerusalém o cordel de Samaria e o prumo da casa de Acabe; eliminarei Jerusalém, como quem elimina a sujeira de um prato, elimina-a e o emborca.

Jó 38:5  Quem lhe pôs as medidas, se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel?

Lamentações 2:8  Intentou o SENHOR destruir o muro da filha de Sião; estendeu o cordel e não retirou a sua mão destruidora; fez gemer o antemuro e o muro; eles estão juntamente enfraquecidos.

Zacarias 1:16  Portanto, assim diz o SENHOR: Voltei-me para Jerusalém com misericórdia; a minha casa nela será edificada, diz o SENHOR dos Exércitos, e o cordel será estendido sobre Jerusalém.

Jesus nos convoca a examinar as nossas verdadeiras intenções; queremos mesmo que o nosso irmão se corrija e viva melhor ou pretendemos destruí-lo com nossos ríspidos comentários? Pois bem, saibamos que se não estivermos dispostos a perdoá-lo, tampouco poderemos esperar o perdão dos outros para os nossos erros, ainda menos o perdão de Deus; lembremos da oração que o Senhor nos ensinou “...perdoe-nos, como nós perdoamos”!

Sempre que quisermos falar de alguém precisamos ter nítida em nossa mente qual a medida que adotamos; aquela da Misericórdia, que perdoa e orienta com amor ou a medida enérgica daquele que deseja o mal de quem errou? Lembremos que, pecadores como somos, logo necessitaremos da misericórdia dos outros e do próprio Deus!

4ª Advertência
CORRIJA-SE ANTES!
(Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?)
(Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? )

Não é possível ajudar o outro, estando em igual ou pior situação. Devemos olhar atentamente para o exemplo que temos dado, as nossas próprias atitudes podem ser verdadeiros empecilhos ao bem que desejamos (se é que desejamos) ao nosso próximo!

Assim é que pais bocas-sujas, fumantes, alcoólatras, violentos, etc, geralmente acabam por conseguir o efeito contrário, quando tentam repreender seus filhos para que não cometam os mesmos erros!

O tal “faça o que eu mando, não faça o que eu faço!” tem se configurado num terrível fracasso disciplinar!

Isto não quer dizer que só pessoas perfeitas podem corrigir as outras, pois, sendo assim, ninguém jamais poderia repreender ninguém, e sim, que deve haver no cristão o real desejo e esforço de viver uma vida exemplar. Para isto contamos com o Espírito Santo que nos constrange ao arrependimento, o Sangue de Jesus Cristo que perdoa o arrependido e a força que vem de nosso Pai do Céu para lutarmos e resistirmos às tentações, orientados pela Bíblia e fortalecidos na oração. E assim, com nosso bom testemunho de vitória em Cristo poderemos ajudar aos outros, pecadores, como nós!

5ª Advertência
NÃO SEJA HIPÓCRITA!!!
(Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão)

Se você quer ajudar, se pode ajudar, ajude de verdade, preparando-se adequadamente para falar com seu irmão, se não quer, CALE-SE!!!

Existe no ser humano decaído um gosto pecaminoso uma verdadeira facilidade de criticar as outras pessoas! Falar mal dos outros pode se tornar um vício e mesmo um pecado que não mais nos incomode. Há muitos que se valem desta prática como se estivesse buscando conselho ou mesmo à guisa de pedido de oração, mas, Deus conhece o coração de cada um; e nós mesmos, com sinceridade e atenção, podemos perceber e nos alertar. Se estivermos nesta situação, sejamos honestos e assumamos: isto é HIPOCRISIA!

Quem não cuida da própria trave no olho só estará pronto mesmo é para furar o olho irmão!!!

Assim, estudando cuidadosamente o texto citado, vemos que Jesus não quer que deixemos cada um com seu cisco no olho sem ser incomodado, usando inadequadamente a expressão “não julgueis para que não sejais julgados”; e sim nos orienta quando ao modo certo de buscar ajudar ao irmão que está no caminho errado!

Resumindo

  1. Devemos estar dispostos tanto a falar quanto a ouvir
  2. Devemos ter a Bíblia como padrão de toda a repreensão e não nossas próprias opiniões
  3. Devemos usar sempre de Misericórdia e Amor
  4. Devemos cuidar de dar bom exemplo
  5. Devemos fugir da hipocrisia de criticar sem responsabilidade!
Apenas tomando estes cuidados estaremos prontos para, de fato, “tirar o argueiro do olho do irmão”; do contrário tudo não passará de fragrante hipocrisia e perversa atitude de tentar furar o olho de quem dizemos querer ajudar!

Que Deus nos ajude!

Pr. Sandro Márcio