sexta-feira, 23 de julho de 2010

Acerca das Crianças no Culto

Jesus exorta: Deixai vir a mim os pequeninos... (Mc 10.14)
A Bíblia orienta: Ensina a criança no caminho em que deve andar... (Pv 22.6)
Contudo, os crentes gritam: Silêncio! Queremos ouvir o sermão!
Pois é, parece que mais uma lei da física foi descoberta: “Adultos e crianças não podem ocupar o mesmo espaço do mesmo templo por muito tempo”. Provavelmente, foi pensando nisso que, para instrução e alegria das crianças e também para sossego dos adultos foi criado o culto infantil.(1) Assim, todas as crianças eram levadas do local de culto do templo para uma sala especial onde pudessem ouvir a Palavra de Deus em linguagem apropriada a elas. Todavia, surge uma nova questão: Até quando as crianças podem ficar no culto infantil?
Entende-se em geral que a partir dos sete ou nove anos a criança já pode permanecer no templo com os adultos; e então retorna o barulho. O que fazer?
Primeiramente, sejamos sinceros em reconhecer a excelente contribuição do culto infantil para a formação espiritual de nossas crianças, pois, quando dirigido por irmãos competentes, leva os pequeninos à compreensão da Palavra de Deus e do Deus da Palavra, além é claro, do sossego que proporciona aos pais.
Em segundo lugar, depois de certa idade, temos que trazer as crianças de volta ao culto para que não o estranhem por completo, se só voltarem (se voltarem) na juventude.
Finalmente, creio que não basta apenas trazê-las; é importante que o culto, bem como o sermão, sejam também relevantes a elas. O amado pastor Martinho Lutero (1483-1546), lá no início da Reforma Protestante já dizia: “Maldito seja todo pregador que tem como alvo o pregar sobre assuntos elevados na igreja, buscando sua própria glória e desejando, de maneira egoista, agradar as pessoas. Quando eu prego, procuro adaptar-me às circunstâncias das pessoas comuns; não me preocupo com aqueles que são eruditos ou mestres... tenho em vista sempre os jovens e as crianças. A estes eu me dedico, esforçando-me para ser simples e objetivo”.(2) E ele vai mais além: "Quando estamos no púlpito, devemos amamentar o povo e dar-lhes leite para beber... Os assuntos e especulações elevados devem ser reservados para os sabichões. Não vou levar em conta os doutores Pomeranus, Jonas, e Philipp enquanto prego, pois o que falo eles sabem melhor que eu. Não prego para eles, mas para os meus pequenos Hans e Elizabeth; estes eu levo em conta.”(3) Não é a toa que um contemporâneo seu tenha dito: “Todo aquele que o escuta uma vez, deseja escutá-lo repetidas vezes"(4) e a isto corrobora C.H. Spourgeon (1834-1892): “As pessoas às vezes falam acerca de alguém: ‘Ele só serve para ensinar crianças: pregador ele não é’ Pois eu lhes digo, à vista de Deus, não é pregador quem não se importa com as crianças!”(5 )Isto está muito de acordo com os textos bíblicos acima referidos. E além do mais, sejamos francos; quantos são os adultos que perdem a atenção e até dormem diante de uma pregação que não os alcança?(6) Na verdade um sermão erudito muitas vezes não edifica grande parte dos adultos da igreja, enquanto um sermão que esclareça as crianças, certamente estará acessível a todos. Não se trata de rebaixar ou infantilizar o sermão, mas apenas de torna-lo mais agradável, atraente e acessível a todos, basta que lembremos o modo como Jesus geralmente se dirigia às multidões.
Cuidar para que isto aconteça, talvez não elimine totalmente o barulho ou a sonolência de alguns, todavia, com certeza será um grande ganho para as novas gerações que despontam em nossas igrejas.

NOTAS.
1. Falamos Culto Infantil, evitando o termo “cultinho”, que embora pareça mais carinhoso, e, certamente foi esta a intenção de quem inventou o termo, acaba por diminuir a importância da adoração infantil, como se fosse uma mera representação juvenil, ou pior, um culto de brincadeira.
2. Revista Fé Para Hoje, n. 18, p. 06. Editora Fiel. São José dos Campos, São Paulo, 2003.
3. CHRISTIANITY TODAY, edição de 11 de novembro de 1983.
4. In http://www.cptn.org.br/reforma/igreja_lut_2.asp, em 22/07/2010 às 20:00h.
5. Spurgeon, CH. Pescadores de Crianças, p. 13. Ed. Shedd Publicações. São Paulo, 2004. Spourgeon, famoso pastor batista do séc. XIX, ainda hoje é reconhecido por muitos como o "príncipe dos pregadores".
6. É claro que nem sempre as pessoas dormem por este motivo, haja vista o caso de Êutico (Atos 20.9).

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